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A teoria do discurso na pesquisa em Educação: possibilidades teórico-estratégicas

Ano: 2018

Organizador(es): Alice Casimiro Lopes; Anna Luiza Oliveira; Gustavo Oliveira

Editora: Ed da UFPE

Número de Páginas: 402

ISBN: 9788541510196

Apresentação:

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A incorporação de debates pós-modernos, pós-estruturais e pós-coloniais ao campo do Currículo no Brasil, crescente nos últimos anos, vem sendo hoje acompanhada pelo destaque da Teoria do Discurso (TD). Multiplicam-se as teses e dissertações, bem como artigos em periódicos e capítulos de livros referenciados diretamente na obra de Ernesto Laclau e Chantal Mouffe e/ou nos autores brasileiros que pesquisam nesse registro. Este pode ser considerado mais um dos efeitos imprevisíveis da circulação de discursos. As conclusões pós-estruturais e pós-fundacionais da TD são traduzidas no campo pedagógico, discursos filosóficos e políticos são iterados e simultaneamente há uma reconfiguração dos discursos pedagógicos e curriculares.

Para alguns dos atuais leitores das produções curriculares pode inclusive parecer, com esse movimento mais recente, que a obra de Ernesto Laclau foi recém-descoberta no campo. Ao contrário, Laclau faz parte das referências nos estudos curriculares há muito tempo, sem que seja possível precisar uma origem. Com base no pós-marxismo de Laclau, por exemplo, são antigas as críticas ao trabalho de Giroux por ele desconsiderar a cultura de grupos subalternos e os processos de articulação, reduzindo-os a uma mera dicotomia entre reprodução e resistência e limitando a apropriação marxista no campo (WEXLER; WHITSON, 1982). A publicação de Hegemonia e estratégia socialista também foi de grande impacto sobre autores que buscavam se distanciar de análises macro-estruturais, capazes de reduzir o currículo a um epifenômeno da economia e a uma perspectiva reificada de cultura (BROMLEY, 1989; GIROUX, 1988, 1992, 1994; MCLAREN, 1997). Noções como democracia radical e antagonismo para além das dimensões de classe passaram a ser correntes no debate curricular e tornaram Laclau e Mouffe referências citadas em vários textos do campo, inclusive os que foram produzidos e/ou circularam no Brasil (CAVALIERI, 1999, DEACON & PARKER, 1994; 1998; DUSSEL, 2001; GIROUX, 1993; MCLAREN, 2000; SILVA, 1993).

A incorporação da problemática constituída pela TD nas pesquisas em políticas educacionais e curriculares é que pode ser considerada um fenômeno um pouco mais recente. Operar com a articulação e a relação incomensurável entre universal e particular, bem como com as lógicas da equivalência e da diferença tem feito parte dos esforços de pesquisadores em educação e em currículo nos mais diferentes países (ALBA, 1999, 2003, 2004; BUENFIL BURGOS, 2000; CLARKE, 2012A; 2012B; GALLARDO, 2014; LAPPING, 2005; LUGG, 2009; RUITENBERG, 2010; SZKUDLAREK, 2003, 2005, 2007; SOUTHWELL, 2008, 2013; WARREN et al, 2011), movimento que as/os pesquisadoras/es brasileiros acompanham, como evidenciado por este livro.

Apesar dessa relevância e do interesse crescente de pesquisadoras/es e estudantes brasileiros/as, há poucos trabalhos publicados no país abordando especificamente a questão das implicações da TD para a reflexão epistemológica, para a elaboração de estratégias metodológicas e para a realização de pesquisas empíricas no campo da educação. A proposta deste livro foi então a de reunir textos de autoras/es brasileiros e estrangeiros que pudessem contribuir para a sistematização, aprofundamento e renovação da reflexão sobre as possibilidades e diferentes formas de articulação do quadro teórico e/ou de noções do pós-marxismo de Laclau e Mouffe para o desenvolvimento de pesquisas empíricas, especialmente, no campo da Educação. Os textos aqui reunidos têm foco na intepretação de experiências ou trajetórias de pesquisa, exploram uma problemática teórico-metodológica específica, e, simultaneamente, investigam possibilidades de articulação com outros referenciais teórico-estratégicos ou discutem aspectos da literatura já publicada sobre a temática.

A escolha das/os pesquisadoras/es que fazem parte deste livro de forma alguma visa a esgotar quem trabalha com a TD. Reflete, diferentemente, as opções estabelecidas a partir da pareceria entre o grupo de pesquisa Política de currículo e cultura do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e do grupo de pesquisa Teoria do Discurso e Educação, do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal de Pernambuco. Essa parceria, que vem se ampliando ano a ano, pode ser também entendida como uma articulação discursiva, na qual não há projetos iguais, mas acordos equivalenciais nos quais o diferir permanece operando. Essa parceria se desdobra nas relações com os demais grupos representados neste livro.

Nossa intenção, ao reunir estes textos em um livro, foi a de contribuir para o debate as investigações em educação com foco na TD, bem como explorar a fertilidade do pensamento de Ernesto Laclau (mas também de Chantal Mouffe) para questionar tanto enfoques marcados pelo determinismo, essencialismo, objetivismo e logocentrismo, quanto enfoques que, na crítica a essas tradições, não conseguem constituir nada mais que uma negativação, ainda fundacional, dessas noções. Por sua vez, entendemos que esse conjunto de artigos favorece outra compreensão das relações entre estrutura e ação de mudança social do sujeito (agência). O sujeito – como sujeito da falta, constituído na ação política – é capaz de transcender à estrutura, ao mesmo tempo em que só pode agir porque esta mesma estrutura se constitui por meio da indecidibilidade (LACLAU, 1993). Assim, o sujeito pleno – desalienado, emancipado, ilustrado ou consciente – não é pré-condição para a ação política, tal como identidades plenas (qualquer identidade) não só não se constituem, como sequer são necessárias para as lutas políticas (e para o mundo, para a vida). O movimento em uma dada ação consiste na busca por preencher a falta da estrutura que constitui o sujeito. Assim, a ação de mudança (agency) é o horizonte da estrutura, o excesso de sentido (a heterogeneidade) que não pode ser simbolizado a não ser como lugar vazio.

Nossa aposta, então, é de que este livro fomente debates e novas pesquisas. Produza críticas e reconfigurações, novas leituras da TD. Com essa aposta, também os colocamos diante de múltiplas possibilidades imprevistas que outras leituras farão destes textos, na constante tradução, no dizer de Derrida (BENNINGTON; DERRIDA, 1996), que não pode ser contida e fixada, como puro constrangimento, e tampouco autoriza qualquer sentido. Tal registro nos coloca, como Ernesto Laclau sempre insistiu, no campo da política. A política referida à luta pela significação do mundo, da vida. A política que não pressupõe direções obrigatórias para a história ou identidades fixas para os sujeitos. A política que remete sempre ao vir a ser, envolve decisões em terrenos indecidíveis, e que, para ser democrática, envolve a constante multiplicação dos centros de poder e o adiamento de sua significação última.

Alice Casimiro Lopes; Anna Luiza A. R. Martins de Oliveira; Gustavo Gilson Souza de Oliveira

Sumário:

Referências Bibliográficas: BUENFIL BURGOS, Rosa Nídia. (2000) Globalization, education and discourse political analysis. Ambiguity and accountability in research. International Journal of Qualitative Studies in Education, 13:1, 1-24. DE ALBA, Alícia (org.) (2004). Posmodernidad y educación. México, UNAM, p. 11-67. DE ALBA, Alicia. (1999) Curriculum and society: rethinking the link, International Review of Education. 45 (5/6), 479-490 DE ALBA, Alicia. (2003) El fantasma de la teoría – articulaciones conceptuales y analíticas para el estudio de la educación. México, Plaza y Valdés, 2003. p. 171-180 BENNINGTON, Geoffrey; DERRIDA, Jacques. Jacques Derrida. Rio de Janeiro: George Zahar, 1996. BROMLEY, Hank (1989). Identity politics and critical pedagogy. Educational Theory. Volume 39, Issue 3, September, Pages: 207–223. CAVALIERI, Ana Maria Villela (1999). Uma escola para a modernidade em crise: considerações sobre a ampliação das funções da escola fundamental. In. MOREIRA, Antonio Flavio Barbosa. Currículo: políticas e práticas. Campinas, SP, Papirus. P. 115-130. CLARKE, Matthew. (2012a). Talkin' 'bout a Revolution: The Social, Political, and Fantasmatic Logics of Education Policy. Journal of Education Policy, v27 n2 p173-191. DOI:10.1080/02680939.2011.623244 CLARKE, Matthew. (2012b). The (absent) politics of neo-liberal education policy, Critical Studies in Education, 53:3, 297-310, DOI: 10.1080/17508487.2012.703139 DEACON, Roger; PARKER, Ben (1994). Educação como sujeição e como recusa. In: SILVA, Tomaz Tadeu. O sujeito da educação: estudos foucaultianos. Porto Alegre: Artes Médicas, p. 97-110. DEACON, Roger; PARKER, Ben (1998). Escolarização dos cidadãos ou civilização da sociedade? In: SILVA, Luiz Heron da. A escola cidadã no contexto da globalização. Petrópolis, RJ, Vozes, p. 138-153. DUSSEL, Inés (2001). Que tem o multiculturalismo a nos dizer sobre a diferença?. In: MOREIRA, Antonio Flavio; CANEN, Ana. Ênfases e omissões no currículo. Campinas, SP, Papirus. P. 65-88. GALLARDO, Anna Laura. Notas conceituais sobre a relação entre justiça curricular e currículo intercultural. In: LOPES, Alice Casimiro; De Alba, Alicia (Org.). Diálogos curriculares entre Brasil e México. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2014. p. GIROUX, Henry (1984). Marxism and Schooling: the limits of radical discourse. Educational Theory. Volume 34, Issue 2, June 1984, Pages: 113–135. GIROUX, Henry (1988). Border pedagogy in the age of postmodernism. Journal of Education, 170 (3), 162-181. GIROUX, Henry (1992). Border crossings: cultural workers and the politics of education. New York, Routledge, Chapman and Hall. Traduzido no Brasil como: Cruzando as fronteiras do discurso educacional – novas políticas em educação. POA: ArtMed, 1999. GIROUX, Henry (1993). O pós-modernismo e o discurso da crítica educacional. In: SILVA, Tomaz Tadeu da. Teoria educacional crítica em tempos pós-modernos. Porto Alegre: Artes Médicas, p. 41-72. GIROUX, Henry (1994). 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