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Avaliar para aprender no Brasil e em Portugal: perspectivas teóricas, práticas e de desenvolvimento

Ano: 2019

Organizador(es): Maria Isabel Ramalho Ortigão; Domingos Fernandes; Talita Vidal Pereira; Leonor Santos

Editora: CRV

Número de Páginas: 278

ISBN: 978-85-444-3463-5

Apresentação:

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Nas últimas décadas os discursos em defesa da promoção da qualidade de ensino têm orientado a intensificação de políticas de avaliação pelo mundo. Analisando esse fenômeno na América Latina, Barriga (2014, 147) destaca que diferentes sistemas educativos têm implementado “políticas que formalmente se ostentam como políticas de qualidade, a partir das quais se multiplicam os programas e os mecanismos de avaliação em todos os níveis e campos do sistema educativo”. Políticas que têm como característica a implementação de mecanismos indutores e garantidores da qualidade que articulam currículo, avaliação e responsabilização como eixos articuladores (BONAMINO; SOUZA, 2012; CARNOY; LOEB, 2002).

São mecanismos acionados com o objetivo de “melhorar os resultados das escolas mediante a criação de conseqüências para a escola ou para professores individuais, sejam elas materiais ou simbólicas, de acordo com o desempenho dos alunos medido por procedimentos avaliativos estaduais ou municipais” (BROOKE, 2008, p. 94).

São políticas que alteram a dinâmica da escola e afetam o trabalho pedagógico na medida em que a intensificação dos mecanismos de responsabilização tendem a contribuir para que as avaliações de desempenho sejam tomadas como expressão das aprendizagens dos estudantes favorecendo um processo de esvaziamento da necessária reflexão sobre as avaliações  como parte do processo pedagógico.

É esse diagnóstico que motiva os estudos dos pesquisadores que aceitaram o convite para colaborar com essa obra. Um projeto iniciado nos contatos estabelecidos para viabilizar a vinda do Professor Domingos Fernandes à Universidade do Estado do Rio de Janeiro em agosto de 2018 e formalizado no encontro entre Leonor Santos, Maria Isabel Ortigão e Talita Pereira em setembro de 2018 na Universidade de Lisboa. Uma proposta que surge da necessidade de fortalecer parcerias entre pesquisadores e grupos seus pesquisa que têm se dedicado a essas reflexões sobre avaliação no Brasil e em Portugal. São estudos que se inserem no movimento de retomada da investigação sobre a avaliação escolar objetivando contribuir para a teorização sobre a avaliação no domínio das aprendizagens como propõe Fernandes (2008).

Na obra são reunidas contribuições formuladas a partir de abordagens teóricas/metodológicas diferenciadas que possibilitam aos leitores, em especial aqueles que se iniciam nessas discussões, a avançarem no processo de compreensão/apropriação da complexidade do problema.

Os capítulos foram agrupados de forma a estabelecer uma lógica de apresentação/discussões sobre o tema que motivaram a organização do livro. Dessa forma, temos um primeiro bloco de discussões que podem ser entendidas como a configuração de um cenário em que estão alicerçadas algumas de nossas preocupações. Em um segundo bloco, temos capítulos que são resultados de estudos voltados para um esforço de recontextualização dos conceitos sobre avaliação. São reflexões que apontam algumas perspectivas para o enfrentamento do problema a partir de um investimento teórico para configurar o campo.

Nos dois últimos capítulos são desenvolvidos argumentos em defesa da ampliação das reflexões do campo tanto no que diz respeito a necessidade de pensar novos objetos/problemas associados à problemática, quanto a apropriação de aportes teóricos com a ampliação de diálogos interdisciplinares com outros campos do conhecimento que se mostrem potentes para dar conta do desafio que ao longo do texto se impõe como urgente e necessário. Apesar desse esforço, alertamos aos leitores que os textos não podem ser encaixados nessa classificação sem problemas. A leitura que nos levou a essa sistematização deve ser entendida como aquela que, contingencialmente julgamos a mais adequada para atender ao objetivo de apresentar quais as preocupações, que em linhas gerais, têm alimentado a produção de conhecimento sobre a avaliação da e para as aprendizagens. Também julgamos importante destacar as similaridades entre as pesquisas produzidas no Brasil e em Portugal. Sem desconsiderar as especificidades acreditamos que os leitores encontraram, ao longo da leitura, elementos que podem sustentar essa compreensão.

Nessa perspectiva, Jorge Pinto, no capítulo “Avaliação formativa: uma prática para a aprendizagem” destaca como a intensificação das políticas de avaliação em larga escala contribuíram para que a avaliação para consolidação de duas concepções de educação que parecem caminhar em direções opostas. Uma centrada na avaliação dos desempenhos escolares, associada à ideia de medida e outra associada à sala de aula, ao trabalho pedagógico do professor. O autor defende o investimento nessa última que, segundo ele deve ser entendida como parte integrante do processo ensino e aprendizagem, como um processo socialmente construído que depende do comprometimento do professor e implica em diálogos as teorias da aprendizagem.

O capítulo “Da avaliação da aprendizagem à avaliação para as aprendizagens em documentos da rede pública de ensino do Distrito Federal”, de Benigna Maria de Freitas Villas Boas e Sílvia Lúcia Soares oferece elementos para o aprofundamento das questões levantadas por Pinto. As autoras apresentam as análises realizadas sobre concepções de avaliação, suas funções, modalidades, práticas orientadas que são articuladas nos documentos produzidos pela Secretaria de Estado da Educação do Distrito Federal (SEEDF), de 1960 a 2018. Mesmo tomando como referência uma rede de ensino específica o estudo traz elementos para que possamos refletir sobre como as políticas articulam sentidos de avaliação produzidos no meio acadêmico em negociação com sentidos produzidos no contexto da escola. Nas análises desenvolvidas também fica clara a tensão entre uma avaliação voltada para as aprendizagens e uma avaliação entendida como verificação do rendimento escolar.

Também tendo como foco a formação de professores, no capítulo “Avaliação em debate com futuros pedagogos: lembranças da trajetória escolar”, Maria Isabel Ramalho Ortigão, Renata Leite de Oliveira e Graciane de Souza Rocha Volotão convidam os leitores a uma reflexão sobre a avaliação escolar a partir dos relatos das lembranças de estudantes de pedagogia, futuros professores e professoras em formação inicial, de uma universidade pública brasileira. As autoras defendem que ao rememorarem suas vivências na escola elas podem ser interpeladas favorecendo a remoção de resquícios de sentimentos de rejeição e de medo da avaliação e o investimento em outras possibilidades avaliativas estabelecidas em relações que valorizem a confiança, autonomia e investigação.

No capítulo intitulado “Avaliação de aprendizagens no ensino superior: um perfil por professores em formação continuada”, Isabel Cristina Rodrigues de Lucena e Franciney Palheta discutem as práticas avaliativas de professores formadores de professores a partir de um levantamento feito junto aos docentes concursados da Universidade Federal do Pará, Brasil. O levantamento realizado a partir de uma listagem contendo afirmações sobre possibilidades de atitudes e escolhas avaliativas comumente desenvolvidas em sala de aula. A atividade planejada e realizada por docentes da instituição em estágio probatório e, a partir dos resultados seus resultados foi feita uma interpretação das manifestações expressadas e, a luz de uma reflexão teórica sobre a relevância de se compreender e efetivar práticas de avaliação para melhorar as aprendizagens de estudantes na formação graduada/ensino superior.

Dentre os textos que se voltam para a discussão dos impactos das políticas de avaliação na Educação Básica no Brasil no capítulo intitulado “Avaliação educacional: uma análise das políticas de avaliação na Educação Básica no Brasil” de Assis Leão da Silva e Alfredo Macedo Gomes analisam, a partir da taxonomia desenvolvida por Ernest House, as características dos modelos de avaliação, referenciais das principais práticas avaliativas, apropriados pelas políticas de avaliação no cenário educacional brasileiro voltadas à Educação Básica. No estudo os autores identificam a tendência de a avaliação subsidiar a regulação externa da aprendizagem, do fluxo escolar e o financiamento da educação, destacando uma visão economicista do fenômeno educativo.

Por sua vez, Maria Teresa Esteban discute a avaliação no cotidiano das escolas dos anos iniciais do Ensino Fundamental. No capítulo intitulado “Ambivalências do discurso sobre a (não) aprendizagem das crianças”, a autora apresenta resultados a partir de pesquisa desenvolvida em colaboração com escolas públicas, partindo de suas experiências com a realização da Provinha Brasil. No estudo foi possível identificar a existências de várias concepções de avaliação que entrelaçam propostas oficiais, práticas escolares e discursos cotidianos nos contextos estudados.

Os diagnósticos e resultados apresentados por esses autores reafirmam a necessidade de teorizar sobre a avaliação das aprendizagens escolares. Dando consequência e esse desafio Domingos Fernandes assina o capítulo intitulado “Para um enquadramento teórico da avaliação formativa e da avaliação sumativa das aprendizagens escolares” em que investe na para a clarificação e consolidação dos conceitos de avaliação formativa e avaliação sumativa que, segundo o autor são conceitos estruturantes criados em 1967, por Michael Scriven e, desde então, vêm sofrendo ressiginificações. No capítulo o autor discute o enquadramento teórico da avaliação formativa e da avaliação somativa a partir de estudos desenvolvidos nos últimos 30 anos e conclui que ainda se faz necessário uma maior compreensão das relações entre as aprendizagens e as avaliações.

Investindo na reflexão teórica Leonor Santos assina o capítulo intitulado “Reflexões em torno da avaliação pedagógica”, em que discute a diversidade de significados atribuídos a conceitos básicos de avaliação e apresenta estudos que se focam no conhecimento profissional do professor para o desenvolvimento de práticas avaliativas. A autora argumenta que a avaliação é um processo que ocorre num contexto social situado e que as diferentes modalidades de avaliação se distinguem pelo propósito que as orienta obedecendo uma lógica de complementaridade e não se simultaneidade. Para ela, o conhecimento profissional necessário para o desenvolvimento de práticas de avaliação formativa passa sobretudo pelo conhecimento didático, dada a sua relação com o ensino e a aprendizagem.

Carlos Barreira também investe na reflexão sobre as ressignificações conceituais da avaliação formativa no âmbito das teorias da aprendizagem passando por uma avaliação formativa tradicional até a uma perspectiva de avaliação que leva em conta o acompanhamento sistemático dos processos de ensino e aprendizagem considerando o envolvimento dos alunos. No texto do mudanças “Concepções e práticas de avaliação formativa e sua relação com os processos de ensino e aprendizagem”, o autor analisa essas mudanças conceituais desde a emergência do termo cunhado por Scriven, em 1967, até à avaliação para a aprendizagem baseada em orientações metodológicas para que os professores desenvolvam práticas reguladoras nas salas de aula.

No capítulo “Avaliação das (para as) aprendizagens das questões teóricas às práticas de sala de aula”, António Borralho, Marília Cid e Isabel Fialho também investem na abordagem sobre a ressignificação dos conceitos associados à avaliação das aprendizagens. Além de destacar que do ponto de vista conceptual a avaliação é um processo que deve estar integrado e articulado nos processos de ensino e aprendizagem, os autores defendem que esse processo deve ser concebido como construção que acontece em um contexto social, num contexto de relações pedagógicas e, portanto, mediado pela interação com o meio e com as pessoas que fazem parte dele, especialmente professores e alunos. No entanto, lembram a dimensão individual implicada no processo que também é pessoal e subjetivo. Argumenta que a avaliação formativa deve assumir predominância para regular o ensino e a aprendizagem, tendo em conta os contextos, a participação dos intervenientes (onde se inclui o feedback), a negociação e os processos cognitivos e sociais da sala de aula.

Em “Para reatualizar a sociologia da avaliação”, Almerindo Janela Afonso investe na reflexão sobre a necessidade de ressignificar o campo da avaliação defendendo a produtividade de uma sociologia da avaliação aberta à diálogos interdisciplinares que possam potencializar o campo de forma a responder às demandas que emergem nos confrontos com as especificidades nacionais e a crescente hegemonia de uma agenda educativa global, desafiada pelas novas exigências do capitalismo cognitivo e que reconhece a contínua sofisticação da teoria da avaliação. Para o autor trata-se de pensar novos objetos, nomeadamente as relações entre diferentes formas de avaliação, a avaliação para a aprendizagem mediada por dispositivos digitais, a avaliação de redes de pesquisa e colaboração, as leituras pós-coloniais da avaliação, as mudanças recentes no Estado-avaliador, ou a necessidade de alternativas às políticas de accountability atualmente dominantes.

No capítulo “(Des)sedimentar sentidos de avaliação para possibilitar processos de avaliação mais justos e responsáveis”, que fecha essa obra, Talita Vidal Pereira investe na perspectiva defendida por Afonso.  A partir da análise que faz das ementas/bibliografias dos cursos de Pedagogia de cinco Universidades públicas localizadas na região metropolitana do Estado do Rio de Janeiro/Brasil a autora afirma que esses documentos revelam por um lado uma estabilidade significativa dos temas/conceitos que organizam a oferta da disciplina Avaliação e por outro uma certa omissão na medida em que a avaliação da aprendizagem não é oferecida como disciplina na grade curricular de algumas das grades curriculares dos cursos selecionados. A autora argumenta que isso acaba contribuindo para o esvaziamento da necessária reflexão sobre o que, para que e como avaliar e defende a potência dos operadores teóricos pós-estruturais, não só para problematizar das lógicas que organizam e legitimam o funcionamento de práticas avaliativas cristalizadas na escola, mas para pensar em como a avaliação pode ser ressignificada a partir dessas problematizações.

Como afirmamos anteriormente, a organização desse livro tem como fortalecer os laços entre nossos grupos de pesquisa, o que implica fomentar o debate em torno da problemática. Esperamos que a leitura desse conjunto de textos possa contribuir para a compreensão da complexidade da avaliação escolar e, consequentemente, para a formulação de alternativas que possam viabilizar o atendimento das demandas especificas postas para a tarefa de avaliar de forma justa, dialógica e responsável.

Sumário: DISCUSSÃO DE QUESTÕES ESSENCIAIS 1. Avaliação formativa: uma prática para a aprendizagem; Jorge Pinto 2.Da avaliação da aprendizagem à avaliação para as aprendizagens em documentos da rede pública de ensino do Distrito Federal; Benigna Maria de Freitas Villas Boas e Sílvia Lúcia Soares 3.Avaliação em debate com futuros pedagogos: lembranças da trajetória escolar; Maria Isabel Ramalho Ortigão, Renata Leite de Oliveira e Graciane de Souza Rocha Volotão 4.Avaliação de aprendizagens no ensino superior: um perfil por professores em formação continuada; Isabel Cristina Rodrigues de Lucena e Franciney Carvalho Palheta 5.Avaliação educacional: uma análise das políticas de avaliação na Educação Básica no Brasil; Assis Leão da Silva e Alfredo Macedo Gomes 6.Ambivalências do discurso sobre a (não) aprendizagem das crianças; Maria Teresa Esteban  CONTRIBUTOS PARA A CONSTRUÇÃO TEÓRICA 7.Para um enquadramento teórico da avaliação formativa e da avaliação sumativa das aprendizagens escolares; Domingos Fernandes 8.Reflexões em torno da avaliação pedagógica; Leonor Santos 9.Reflexões em torno da avaliação pedagógica; Carlos Manuel Folgado Barreira 10.Avaliação das (para as) aprendizagens das questões teóricas às práticas de sala de aula; António Borralho, Marília Cid e Isabel Fialho  PERSPECTIVAS PARA UMA AMPLIAÇÃO DO CAMPO 11.Para reatualizar a sociologia da avaliação; Almerindo Janela Afonso 12.(Des)sedimentar sentidos de avaliação para possibilitar processos de avaliação mais justos e responsáveis; Talita Vidal Pereira

Referências Bibliográficas: BARRIGA, A. D. Uma polêmica em relação ao exame. In.: AFONSO, A. J.; GERALDI, C. M. G.; LOCH, J. M. P.; GARCIA. R. L; ESTEBAN. M. T. (Orgs.). Avaliação: uma prática em busca de novos sentidos. Petrópolis: DP et Alli, 2008. BONAMINO A.; SOUZA, S. Z. Três gerações de avaliação da educação básica no Brasil: interfaces com o currículo da/na escola. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 38, n. 2, p. 373-388, abr./jun. 2012. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/ep/v38n2/aopep633.pdf>. Acesso em: out. 2016. BROOKE, N. Responsabilização educacional no Brasil. Revista Iberoamericana de Evaluación Educativa. v. 1, pp. 93-109, 2008. Disponível em: < http://www.rinace.net/riee/numeros/vol1-num1/art7_port.html >. Acesso em: out. 2016. CARNOY, M.; LOEB, S. Does external accountability affect student outcomes? A cross-state analysis. Educational Evaluation and Policy Analysis, v. 24, n. 4, p. 305-331, 2002. FERNANDES, D. Para uma teoria da avaliação no domínio das aprendizagens, Estudos em Avaliação Educacional, v. 19, n. 41, set./dez. 2008

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