Books

Sociologia para Educadores 2

Ano: 2005

Organizador(es): Leila de Alvarenga Mafra e Maria de Lourdes Rangel Tura

Editora: Quartet

Número de Páginas: 192

ISBN: 8585696729

Apresentação:

Sorry, this entry is only available in Brazilian Portuguese. For the sake of viewer convenience, the content is shown below in the alternative language. You may click the link to switch the active language.

O segundo volume de Sociologia para educadores está organizado no sentido de analisar algumas das muitas perspectivas, abordagens, discussões epistemológicas que no correr do século XX povoaram o campo da Sociologia, com especial ênfase para questões que mais diretamente interessam o campo da Educação. Esse campo de estudos esteve, neste século, presente no interesse de vários sociólogos e bastante marcado pelos fundamentos do movimento iluminista, que enfatizaram sua contribuição para as políticas de desenvolvimento, o progresso social e científico das sociedades modernas e o desenvolvimento da racionalidade humana.

No primeiro volume procurou-se “acompanhar algo do desenrolar da história da constituição da modernidade no Ocidente e dos esforços do pensamento sociológico para compreender esse tempo e o que se produziu na constituição das organizações sociais”, tendo a Educação se tornado uma instituição muito importante para o conjunto do sistema social.

Neste segundo volume, os diferentes capítulos estarão apresentando alguns estudos de pensadores, ou de escolas de pensamento que, no correr do no século XX, deixaram marcas importantes para o entendimento dos complexos meandros que a Educação, como prática sócio-cultural, andou percorrendo. Ao longo deste século, paralelamente à busca de teorias explicativas para o entendimento dos mecanismos de funcionamento da organização e formação social, observou-se, também, deslocamentos nos eixos epistemológicos e metodológicos que tradicionalmente pautaram a pesquisa sociológica. Na esteira dessa tradição encontravam-se paradigmas, teorias, pressupostos e métodos de análise que, na apreensão do sentido das práticas pedagógicas e dos problemas educacionais, privilegiaram ora o pólo economicista, ora o pólo culturalista ou o pólo interacionista.

No desenvolvimento da Sociologia da Educação, ao longo desses anos e dos confrontos que permearam tais pesquisas e abordagens, percebe-se o redimensionamento dos paradigmas e teorias dominantes e o deslocamento do olhar de estudos quantitativos, macro-estruturais, centrados no movimento das massas escolares (fluxo, coortes, enquetes longitudinais) para pesquisas de caráter mais qualitativo-reflexivo, em que se dá a restauração do sujeito e o retorno ao ator social. Ou seja, a par da discussão a respeito das tendências que organizam o espaço social na atualidade, amplia-se, de forma expressiva, o caráter reflexivo do pensamento sociológico.

Percebe-se, outrossim, que as mudanças no campo da Sociologia da Educação se deram concomitantemente às grandes transformações observadas na vida social do século XX, matizadas, por exemplo, pela eclosão de duas grandes Guerras Mundiais e o conflito político encetado pelo nazi-fascismo; pelo surgimento de novas nações – fruto das lutas de antigas colônias por emancipação -; pelas segmentações entre o mundo desenvolvido e as nações periféricas; pelas disputas por mercados; pelas intensas migrações seguidas de problemas sociais causados pelos confrontos étnicos; pela urbanização acelerada e os impasses na organização do campesinato; pela transformação das estruturas de classe; pelas novas dimensões dos ambientes culturais; e pela emergência de novas identidades culturais e movimentos sociais de minorias, até então silenciosas.

Nesse contexto, os Estados Nacionais foram perdendo sua centralidade, o mundo se globalizou e a ordem social foi se fazendo mais descentrada, mutante, multicultural, instável e envolvida em conflitos muito radicais que deixaram marcas profundas de insegurança para as populações e de instabilidade para o próprio planeta. Contudo, ao largo deste século, ainda se ouviu o eco das muitas batalhas pela emancipação social, pelas liberdades democráticas, pelos direitos de cidadania que foram as principais bandeiras de luta da modernidade ocidental e que pontuaram valores na constituição e transformação dos sistemas educacionais.

Enfim, foi no interior desse complexo de transformações sociais que, no campo do pensamento sociológico, se pode observar, por parte de diferentes pensadores, a construção de novos objetos de investigação e perspectivas de análise que dialogaram com os paradigmas hegemônicos ao longo de todo o século. Mais recentemente, assiste-se à crise desses paradigmas e à tentativa de reordenação de seus princípios e pressupostos no sentido de uma superação e recomposição. Em foco estavam o modelo funcionalista e positivista, mais afinado com o que pontuou a pesquisa sociológica nos seus alvores; os novos caminhos traçados pelo estruturalismo, fortemente pautado nos trabalhos críticos da lingüística de Saussure, Barthes e Chomsky; a força do marxismo ou de um neomarxismo, que se afastava do rígido determinismo econômico e se apoiava em análises que incluíam as práticas e as formações culturais; e o interesse pelo estudo de relações sociais de maior proximidade e intensidade, ocorridas no interior de pequenos grupos ou comunidades.

Nas duas últimas décadas do século XX, pôde-se verificar o surgimento de posturas críticas em relação aos anteriores paradigmas de análise da vida em sociedade ou do entendimento de sua superação para dar lugar àquilo que se denominou como pós-estruturalismo, pós-modernismo, pós-colonialismo.

Voltando, então ao período do pós-guerra, foi nesse momento que os Estados Unidos da América se afirmaram como nação promissora em termos de uma resposta democrática às investidas totalitárias e de uma resposta desenvolvimentista à crise econômica que devastava a Europa.

Paralelamente e acompanhando o movimento de organização do campo de estudos da Sociologia nos EUA em um momento em que esta nação se projetava mundialmente, destacaram-se os trabalhos de Talcott Parsons. O pensamento deste sociólogo será o objeto de estudo do primeiro capítulo desse livro, num texto intitulado “O pensamento sociológico de Talcott Parsons e a Educação” escrito pela professora Leila de Alvarenga Mafra.

A autora analisa e interpreta o pensamento social de Talcott Parsons, situando-o em relação a outros sociólogos que lhe antecederam e no contexto social, político e econômico em que viveu, destacando as suas contribuições mais relevantes e, também, o caráter contraditório e polêmico de sua obra, sobretudo, em relação à crítica deste autor ao marxismo, ao economicismo, e sua crença no potencial transformador da sociedade moderna, profissional e meritocrática, bem como dos benefícios que dela poderiam advir para a maioria da população.

Em seguida, a autora, discute e analisa a importância social e cultural concedida ao sistema educacional e à escola por Parsons para a construção e a transformação dessa sociedade, entre as décadas de 50-70. Destaca nessa passagem, o papel de socialização, de diferenciação e de seleção meritocrática atribuídos por ele à escola e, principalmente, ao ensino fundamental e ao ensino médio.

Ainda no período do pós-guerra, pôde-se verificar na Europa um marcado interesse de reorganização das nações mais atingidas pelos conflitos bélicos, especialmente a Alemanha e a Inglaterra. Assim, um conjunto de problemas sociais levou a Sociologia a buscar explicações para os mecanismos políticos de dominação e voltar seu olhar para as formas de organização e controle social. É em torno de questões como essas que se destaca o pensamento de Karl Mannheim. Esse autor nasceu em Budapeste no final do século XIX, viveu na Alemanha no período da Primeira Guerra Mundial e se refugiou na Inglaterra em 1933, fugindo do nazismo. Essa trajetória de vida se reflete em seus estudos que focalizaram, fundamentalmente, a relação entre a ordem social e o planejamento na construção de uma sociedade democrática planificada, que deveria se contrapor à vertente totalitária do planejamento.

São esses os temas analisados pela professora Débora Mazza no segundo capítulo desse livro, intitulado “Ordem social, planejamento e educação no pensamento de Karl Mannheim”. Ela dá destaque às funções atribuídas por esse autor à educação e aos intelectuais e distingue em sua obra um forte interesse pelas relações político-sociais e a reconstrução da ordem social. O planejamento se apresenta, então, como uma estratégia de intervenção racional que pode associar o respeito às liberdades individuais com a necessidade de controle social, numa sociedade democrática. Nesse contexto, Débora Mazza estuda o papel conferido por Mannheim aos intelectuais – que engendram um alargamento da visão sobre as questões sociais ou uma “síntese de perspectivas” parciais – e à Educação – entendida como técnica social de manipulação intencional para se alcançar o objetivo maior do desenvolvimento social. É nesse sentido que ele entende a importância da seleção dos conhecimentos a serem ensinados, o que favorece, em última instância, a construção de uma sociedade mais democrática e mais justa.

Foi também em Frankfurt na Alemanha, onde Mannheim lecionou Sociologia, que surgiu, nesse período do pós-guerra, uma escola de pensamento ligada ao criticismo alemão conhecida como Escola de Frankfurt ou Teoria Crítica. Essa Escola se constituiu em torno de um grupo de estudiosos que trabalhou com algumas sínteses das raízes mais tradicionais do pensamento alemão e reuniu a visão weberiana da racionalidade instrumental da moderna organização social com a crítica do capitalismo realizada por Marx, na formulação de sua própria visão da vida social do século XX. Acompanhando esses passos, a professora Rita Amélia Teixeira Vilela analisou o potencial da Teoria Critica para a Sociologia da Educação em um texto intitulado “Para uma Sociologia crítica da Educação em Adorno e Horkheimer: apontamentos”. Nesse trabalho, destaca as contribuições destes dois importantes estudiosos da Escola de Frankfurt para o entendimento da lógica que determina o funcionamento da escola e os resultados e os sentidos dessa prática sócio-cultural. Para tal, faz uso de obras clássicas de Adorno e Horkheimer, tentando evidenciar sua força na definição de referenciais para a discussão da relação escola e sociedade. No correr do texto, analisa algumas lições da “dialética do esclarecimento” para uma Sociologia Crítica da Educação que, tendo por base a concepção marxiana da história, assinala o sentido político da atividade pedagógica e a dimensão ideológica do sistema de ensino. Em torno desses eixos, distingue a análise de Adorno a respeito dos processos semiformativos da sociedade ou da “semi-formação” produzida pela indústria cultural e a categoria da “experiência”, fortemente ligada ao contexto educacional. Concluindo, a autora destaca que, para a o campo da Sociologia da Educação, a Escola de Frankfurt produziu uma poderosa crítica da ideologia da escola e de seu sistema de ensino, extremamente seletivo e excludente e comprometido com uma classe social dominante, e que esses dois autores estudados distinguiram em seus trabalhos a possibilidade de contrapor aos processos existentes uma atitude concreta de ação política contra a injustiça e a desigualdade, intentando alcançar uma Educação para a emancipação.

Ainda marcado pelo contexto das nações européias mais atingidas pelos conflitos bélicos do início do século XX, pode-se distinguir o surgimento daquilo que se denominou como os Estudos Culturais ou a fundação do Centre for Contemporary Cultural Studies (CCCS) na Universidade de Birmingham na Inglaterra, no ano de 1964. Este é o tema estudado pela professora Maria de Lourdes Rangel Tura no quarto capítulo desse livro em um texto intitulado “A propósito dos Estudos Culturais”.

Nesse capítulo, a autora inicia seu trabalho com uma longa discussão sobre o conceito de cultura ou de sua história, o que é fundamental para o entendimento das múltiplas dimensões que esse conceito foi adquirindo e, no que interessa ao texto, das perspectivas interdisciplinares ou transdisciplinares que marcaram os Estudos Culturais.

O grupo fundador do CCCS pôs em questão os paradigmas dominantes das Ciências Humanas e Sociais e tentaram estabelecer um diálogo e articulações com diferentes campos acadêmicos e buscar metodologias de investigação para, fazendo uso de análises neomarxistas, focalizar questões de poder, ideologia e hegemonia cultural em estudos sobre as trajetórias do mundo operário e as práticas pedagógicas de educação de adultos, ambientes próximos de suas experiências de vida e trabalho.

No correr dos anos, os Estudos Culturais expandiram-se para diferentes países, especialmente Estados Unidos, Canadá e Austrália e, posteriormente, para a África, a Ásia e a América Latina. Nisto foram ampliando seus objetos de estudos, suas questões de pesquisa, suas bases teóricas.

No texto, a autora dá destaque, ainda, aos Estudos Culturais no campo da Educação, que “têm se expandido e acompanham as transformações ocorridas no campo da pedagogia, no contexto da vida nas escolas, nos sistemas de organização sócio-cultural e nas formas de comunicação e informação, que as novas tecnologias têm feito acontecer”.

No quinto capítulo a professora Jucirema Quinteiro irá trabalhar com um objeto mais recente dos estudos sociológicos e que tem interesse direto para o campo da Educação. Em seu texto intitulado “Infância e educação: questões emergentes”, essa autora vai chamar a atenção para um tema que tem recebido um lugar muito restrito no pensamento sociológico e marcado em suas origens por um sentido de disciplinarização e contenção. A autora distingue, então, o interesse – pioneiro – dos estudos de Durkheim sobre a infância. Interesse esse fortemente ligado à necessidade de uma Educação Moral para socializar as crianças de acordo com as “regras do jogo” social. No entanto, posteriormente aos estudos de Durkheim, o que se pôde observar foi um certo esquecimento ou uma presença muito pequena de estudos sobre a infância no campo da Sociologia.

Contudo, nas duas últimas décadas do século XX, os estudos sobre a infância foram se ampliando e adquiriram “um certo estatuto teórico-metodológico”, como afirma Jucirema Quinteiro, que vai mais além e destaca um interesse atual em distinguir a criança como um sujeito social e, portanto, um sujeito portador de direitos.

Nesse contexto, os estudos têm destacado as relações sociais das crianças com suas culturas e as entendido como atores sociais. São questões que nos levam a buscar conhecer a infância nos vários ambientes sociais por ela habitados para que se possa intervir nas discussões e definições de políticas e programas sociais dirigidos à criança. Entre esses, vale destaque para aqueles mais diretamente ligados à socialização da criança, como a escola.

No sexto capítulo, Marco Silva irá apresentar um texto intitulado “Educar em nosso tempo: desafios da teoria social pós-moderna”, para discutir exatamente o que se tem entendido como as características desse novo tempo – pós-moderno – e sua repercussão no campo da Educação.

Enquanto muitos se perguntam se há, de fato, um tempo da pós-modernidade, pode-se dizer, segundo o que afirma esse autor, que o impacto das profundas transformações sócio-culturais ocorridas a partir de meados do século XX não foram, ainda, suficientemente incorporadas na teorização sobre a prática educativa.

No entanto, o ideal da modernidade em relação ao progresso e à emancipação social e à possibilidade da escola ser um espaço privilegiado na formação de cidadãos está ameaçado. Ameaçado por que o cidadão se tornou o mero consumidor da informação audiovisual e os valores culturais se imiscuem nos apelos publicitários que se apresentam como verdades, apoiadas na força sedutora das imagens. O que se percebe, então, tanto no espaço sócio-cultural mais amplo como no ambiente escolar, é uma crise de valores em um mundo que se transforma de forma acelerada. Nesse sentido, em relação à escola percebe-se que ela perdeu também sua possibilidade a atender às demandas tradicionais de busca da autonomia do sujeito no projeto humano de emancipação social.

São, portanto, muitos os desafios que se apresentam aos educadores, que precisam refletir, entre outros, sobre sua própria crise de identidade e do modelo de educação tradicionalmente projetado.

Marco Silva irá, então, a partir desse quadro, propor uma análise das novidades que se apresentam ao espaço social e escolar e as formas dos educadores entrarem em diálogo com as novas identidades estudantis e os novos códigos da informação e da comunicação. A sala de aula, nesse contexto, se apresenta como local privilegiado da “ação comunicativa” e, para que isso se possa realizar, é necessária uma atenção especial com a formação de professores.

Enfim, os diferentes capítulos desse segundo volume do Sociologia para educadores pretenderam agregar, a partir do estudo de diferentes perspectivas do pensamento sociológico produzido no século XX, aquilo que, desse mosaico de idéias, teorias, conceitos explicativos da vida em sociedade, traz importantes contribuições ao entendimento dos fenômenos próprios da prática educativa e de sua forma de organização enquanto instituição social.

Leila de Alvarenga Mafra & Maria de Lourdes Rangel Tura

Sumário: Apresentação Leila de Alvarenga Mafra & Maria de Lourdes Rangel Tura [7] O pensamento sociólogo de talcott parsons e a educação Leila de Alvarenga Mafra [15] Ordem social, planejamento e educação no pensamento de Karl Manheim Débora Mazza [55] Para uma sociologia crítica da educação em adorno e horkheimer: apontamentos. Rita Amélia Teixeira Vilela [75] A propósito dos estudos culturais Maria de Lourdes Rangel Tura [101] Infância e educação na sopciologia: questões emergentes Jucirema Quintero [137] Educar em nosso tempo: desafios da teoria social pós-moderna Marco Silva [167]

Referências Bibliográficas:

Compartilhe esta página: